sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
pterossauro gigante
O Brasil acaba de ganhar e perder uma nova espécie de pterossauro gigante. O réptil voador, que media 5 metros de uma ponta da asa à outra, viveu há 115 milhões de anos na região onde hoje é a chapada do Araripe, no Ceará. E seu fóssil, descrito por um pesquisador britânico, foi provavelmente contrabandeado e acabou indo parar num museu alemão. Ilustração mostra como seria o Lacusovagus magnificens, que viveu no Estado do Ceará Mark Witton, doutorando em paleontologia da Universidade de Portsmouth, desengavetou o fóssil quase por acaso, e tirou a sorte grande. "O espécime foi emprestado do Museu de História Natural de Karlshue há vários anos e ficou na minha mesa. Passei-o para o Mark achando que fosse ser um bom treino para ele", conta David Martill, orientador de Witton. "Acabou que era um novo pterossauro", continua. O material consistia apenas na ponta da mandíbula. Foi o suficiente para Witton descobrir que se trata de um gênero novo dos azhdarcóideos, uma subdivisão da ordem dos pterossauros à qual pertenceu o Quetzalcoatlus, o maior ser vivo que já voou sobre a Terra (com incríveis 14 metros de envergadura). O animal cearense foi batizado Lacusovagus magnificens, ou "andarilho gigante do lago", em latim. É o pterossauro gigante mais antigo já descoberto no Brasil. Tinha o mesmo tamanho do Thalassodromeus sethi, bicho de crista enorme encontrado em rochas um pouco mais recentes na mesma região. O local em que o animal vivia era uma imensa laguna rasa. Hoje ela corresponde às rochas calcárias do membro Crato, uma das principais jazidas de fósseis do mundo. Como a maioria do pterossauros da região, o L. magnificens provavelmente se alimentava de peixes. O animal descrito por Witton na última edição do periódico científico "Palaeontology" também chamou a atenção por sua semelhança com espécies da formação Jiufotang, na China. Ali também já haviam sido encontrados, no passado, pterossauros de dois grupos descritos originalmente no Araripe: os anhanguerídeos e os tapejarídeos. "Com a publicação do Lacusovagus são reforçados a relação e o intercâmbio de fauna entre esses dois depósitos", afirma o biólogo Hebert Bruno Campos, que estuda pterossauros do Ceará. Como essa distribuição aconteceu e em que época ainda não está claro. 'Mas provavelmente foi algo semelhante ao que acontece com determinadas aves, como os psitacídeos [papagaios e periquitos] atuais, encontrados em vários continentes', diz Campos. Prejuízo Martill diz não saber como o fóssil foi parar na Alemanha. Mas aquele país é um dos destinos mais comuns de fósseis do Brasil (o próprio Martill descreveu um dinossauro, o Irritator, cujo crânio havia sido levado para um museu alemão). A legislação brasileira determina que fósseis de interesse científico só podem ser retirados do país em convênio com instituições nacionais ou com autorização do DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral). O DNPM nunca deu uma autorização do tipo. Anos atrás, a Polícia Federal prendeu e depois soltou um comerciante de fósseis alemão suspeito de contrabandear espécimes para a Europa. "Há espécimes brasileiros em muitos museus aqui na Europa. Acho que todas as aquisições mais recentes devem ter sido contrabandeadas, a menos que haja uma permissão bem documentada", diz Martill. Segundo Campos, Karlshue abriga "inúmeros" espécimes de pterossauros e dinossauros provenientes do Araripe. "São fósseis únicos e em estado de preservação excepcional", diz. A melhor forma de coibir o prejuízo científico causado pelo comércio ilegal de fósseis, segundo o biólogo, é "investir em paleontologia no Brasil".
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